Quando os primeiros oleodutos começaram a ser construídos nos Estados Unidos, os carroceiros se revoltaram: a construção daqueles dutos eliminaria de uma vez por todas o trabalho deles e eles ficariam sem emprego. Hoje, décadas depois, já não conseguimos imaginar a nossa vida sem algumas comodidades do mundo moderno, como os transportes mais ágeis. Assim como ocorreu no passado, ocorre hoje e ocorrerá com o trabalho do futuro, as profissões estão sempre em mudança.

Algumas atividades, por exemplo, deixaram de existir por completo. É o caso, por exemplo, dos ascensoristas de elevadores. Em um mundo cada vez mais automatizado, apertar botões deixou de ser uma novidade e muito provavelmente ninguém tem dificuldade para operar um elevador.

O escritor Martin Ford, autor do livro Rise of the Robots: Technology and the Threat of a Jobless Future, é um dos especialistas que vem estudando a fundo essa questão. Os recentes avanços da robótica e da inteligência artificial têm tirado o sono de algumas pessoas, uma vez que certos cargos devem deixar de existir. Mas será que há motivo para pânico?

Pontos positivos e negativos

Para o autor, parece inegável que os avanços da tecnologia trouxeram muito mais pontos positivos do que negativos para a humanidade. Hoje produzimos mais, a um custo menor, e também vivemos mais e com maior qualidade de vida. Porém, como toda novidade, ela traz desafios que causam desconforto e estranheza em um primeiro momento.

O mercado de trabalho é o que mais sofre com isso. As profissões que exigem menos qualificação ou cujo trabalho é mecânico e repetitivo tendem, cada vez mais, a sumir. Se por um lado isso é um sinal de alerta para os trabalhadores, por outro uma luz se acende quando vemos a quantidade de novos empregos que são gerados por conta dessas tecnologias.

Em outras palavras, falamos de um mundo no qual a qualificação mínima exigida será cada vez maior. Novos empregos e oportunidades surgirão, mas muitas funções que conhecemos hoje deixarão de existir completamente. Ou seja, será preciso se reinventar, assim como a tecnologia insiste em trazer coisas novas para nós todos os dias.

O perigo do desequilíbrio

Se por um lado há a destruição de muitas vagas de emprego, por outra há a criação de novas oportunidades. No entanto, a velocidade com a qual a tecnologia tem evoluído nos últimos anos criou um cenário de desequilíbrio. Hoje, mais postos de trabalho são fechados do que criados e, infelizmente, com relação a isso o cenário só tende a piorar.

Ford é categórico em suas publicações. “No mínimo, a inteligência artificial pode ameaçar virtualmente qualquer trabalho cujo nível fundamental seja uma rotina ou atividade previsível. Isso colocaria sob ameaça pelo menos metade da força de trabalho existente na atualidade. Eu tenho minhas dúvidas se os novos empregos gerados serão suficientes para absorver os trabalhadores impactados”, explica.

Ele salienta ainda que, em muitos casos, a inteligência artificial é capaz de eliminar tarefas, mas não trabalhos inteiros. Contudo, isso faz com que o problema seja menor, mas não menos alarmante: na prática, serão necessárias menos pessoas para desempenhar uma determinada função, o que também resultará em menos empregos.

Ford cita ainda algumas funções cujo futuro está claramente ameaçado nos próximos 10 ou 20 anos: motoristas e operadores de caixa aparecem no topo dessa lista.

Como ganharemos dinheiro no futuro sem trabalho?

Essa é uma questão para a qual não há uma resposta exata, mas será preciso mudar completamente a maneira como pensamos hoje a nossa carreira. Aquela ideia de que nos formamos em uma profissão e seguimos com ela para o resto da vida até a aposentadoria cada vez se torna mais distante. Tanto pelo fato de que certas profissões hoje podem não ter mais 35 anos de vida quanto pelo aspecto de que a aposentadoria também se tornou incerta.

Para o autor, isso significa mudar completamente a maneira de pensar. Nós precisamos fazer um esforço concentrado para entender as mudanças que ocorrem à nossa volta e buscar a adaptação a elas. Não é simples e não é fácil, mas será preciso encarar a situação com a mente aberta. Um desses pensamentos, por exemplo, diz respeito à carreira.

Hoje, tendemos a dizer que “somos” alguma coisa, quando na verdade o futuro nos impele a pensar que “estamos” como alguma coisa. Ser um jornalista ou um contador, por exemplo, pode ser um fator limitador na hora de buscar uma oportunidade de trabalho em um mercado que cada vez abre menos portas. Assim, “estar atuando como contador”, por exemplo, hoje não significa que você fará isso para sempre.

O importante é ficar de olho no futuro e estar preparado para, se for o caso, mudar radicalmente os rumos da carreira se assim for necessário. Em meio a tudo isso, apenas uma certeza se faz presente: aqueles que apostarem no aprendizado e no conhecimento provavelmente terão mais facilidade para se adaptar a essa nova era.

Fonte: sage