Quando abriu seu escritório de Engenharia e Arquitetura, em 2011, Osias Matos Filho não podia imaginar que faria, efetivamente, parte da história dos Jogos Olímpicos Rio-2016. Cinco anos depois, porém, a empresa estabeleceu 12 contratos com o Comitê do megaevento. E a conquista é parte de um cenário bem maior, possibilitado pelo programa “Sebrae no pódio”. Ao todo, quatro mil acordos foram assinados com micro e pequenas empresas para a realização da Olimpíada, gerando mais de R$ 400 milhões para cerca de dois mil empreendedores.
— Em 2013, estabelecemos essa parceria para incluir, de maneira inédita no mundo, as micro e pequenas empresas no fornecimento dos Jogos. O objetivo era qualificá-las para proverem os 30 milhões de itens que seriam necessários — lembra Francisco Marins, o coordenador do programa, que continua: — Seria aluguel de cavalos, ração para cavalos, itens de cama, mesa e banho, cadeiras, bufê e fornecimentos de água e gelo.
Qualificadas, 13 mil empresas se cadastraram no portal da Rio-2016 para participar de concorrências de obras e outros fornecimentos. No caso de Osias, de 54 anos, estão entre os trabalhos contratados a construção da pista do velódromo, os elevadores temporários para cadeirantes e o restaurante para atletas no Engenhão. Ele comemora o legado:
— Meu faturamento subiu muito. Eu tinha 20 funcionários e passei a ter 300, em muito pouco tempo — conta.
Lidia Vieira, de 50 anos, também fechou contratos para a Dreamdomus Brasil Empreendimentos e Automação, empresa que dirige:
— Nós somos de Macaé e ficamos sabendo que o Sebrae faria uma apresentação no município. Aí, participamos. Nossa empresa tem apenas dois anos e meio, mas entrou pequena e virou média rapidamente, por causa dos Jogos Olímpicos. Criamos módulos provisórios para o Comitê — diz.
Os resultados vão além, para o coordenador do Sebrae.
— Posso te falar que a Olimpíada é um trampolim para a melhoria da qualidade das empresas brasileiras. E o “Sebrae no pódio” é um modelo que pode ser levado para os próximos Jogos — avalia Francisco Marins.
Projeto ofereceu capacitação
Desenvolver ações estratégicas e operacionais para a qualificação dos pequenos negócios que eram potenciais fornecedores para os Jogos, contribuindo para fomentar, de modo sustentável, as cadeias produtivas nacionais. Era esse o objetivo do programa “Sebrae no pódio”. Para alcançá-lo, Francisco Marins viajou pelo país.
— Eu recebi listas de tudo o que o Comitê iria comprar e viajei pelo Brasil para saber o que tinha a possibilidade de micro e pequenas empresas atenderem. Falei pessoalmente com cerca de 35 mil empresas no Brasil. E, dessas, 13 mil estão no portal oficial da Rio-2016 — afirma ele, lembrando da segunda etapa: — Qualificamos tudo de acordo com os indicadores de gestão e sustentabilidade.
O Sebrae ainda apoiou as empresas na obtenção de modalidades diversas de certificação empresarial, como testemunha o empresário Osias:
— Houve encontros de negócios e orientações documentais e sobre serviços de qualidade. Por conta do Sebrae, consegui o certificado que capacita para a participação em concorrências de níveis municipal, estadual e até federal. Era meu sonho e eu consegui realizá-lo. Posso pegar obras maiores agora.
Empreendedores correram também por fora para suprir a demanda
Não foi preciso um contrato com o Comitê, no entanto, para participar dos Jogos. Diversas empresas que correram por fora exemplificam isso. Atentas à demanda que surgiria, elas se preparam para aproveitar o momento.
— O anúncio do evento gerou uma expectativa de demanda de serviços e uma necessidade de o empreendedor se capacitar. Houve uma profissionalização. E esse legado fica — diz Rosana Chaves, consultora em Gestão e Negócios da Moving Consultoria, destacando: — Toda a área de alimentação e bebidas está sendo beneficiada, por conta dos novos consumidores e do estímulo dos que já estavam por aqui.
Mas empresas de tecnologia também devem lucrar. É o que estima o COO (executivo-chefe de operações) do Guichê Virtual, que vende passagens de ônibus na web.
— Esperamos um incremento de 18% nas vendas, em relação a um período comum — diz Halyson Valadão.
Com o crescimento da clientela e as altas exigências, os Jogos deixam lições para os empresários que querem estar num padrão olímpico. Por isso, o EXTRA traz, abaixo, cinco orientações dadas pelo coordenador do Sebrae Francisco Marins, e que Caio Bretones, fundador e CEO da empresa Mobyle2you, atesta.
— Recebemos uma ligação da CCR, responsável pela Via Rio, que liga a Barra da Tijuca até Deodoro, para fazer um aplicativo que informasse as condições dela para quem estivesse no local. O primeiro desafio foi o prazo apertado. E, por ser um megaevento, não são permitidos erros. Tem que estar tudo perfeito — afirma Bretones.
Dicas para alcançar o padrão olímpico
Formação de preço – Antes de formar o preço, é necessário um bom controle financeiro: saber ao certo valores das compras materiais, custos com mão de obra, desgaste e manutenção das máquinas. Esse controle é fundamental para participar de concorrências.
Logística – Compromisso com a entrega do produto final é importante para o fortalecimento da marca de sua empresa. Gestão de processos é fundamental. Não podem ocorrer falhas. E se acontecer, ações corretivas precisam ser implementadas de forma rápida.
Qualificação – Investir na qualificação constante da mão de obra é estar sempre na vanguarda. Funcionários treinados ganham motivação própria e apresentam os melhores resultados para a empresa.
Planejamento – Trabalhar sob demanda, com data de entrega, só dá certo com planejamento. Estudar cenários de parceiros e fornecedores, perfis dos clientes e fazer análise de mercado são indispensáveis para o sucesso da empresa.
Sustentabilidade – Não se pode mais prestar serviços ou criar produtos sem pensar nisso. Itens como uso eficiente de água e energia e bioeconomia fazem mais diferença na competitividade, a cada dia. Para os Jogos, por exemplo, o Comitê Rio-2016 exigiu que os setores gráfico e mobiliário apresentassem a certificação FSC, que prevê o uso eficiente da floresta.
Fonte: Pequenas Empresas Grandes Negócios